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A leitura na adolescência

Ao encurtar a distância entre adolescentes e livros, projetos de incentivo à leitura abrem caminhos para jovens em todo o país. 

Quando o século 21 chegou à pequena comunidade ribeirinha de Nossa Senhora de Fátima, a 20 minutos de barco de Manaus, o futuro ainda parecia distante, bem distante. Principalmente para a parcela mais jovem da população. O número de crianças e adolescentes fora da escola, se não era alarmante, podia ser considerado no mínimo preocupante. E a perspectiva de dias melhores não empolgava nem aqueles que frequentavam as salas de aula: entre os que estudavam, poucos já tinham lido um livro na vida. Essa situação só começou a ser alterada quando alguns moradores, agentes de saúde e até policiais se reuniram em torno de um objetivo em comum: incentivar a leitura justamente entre aqueles que construiriam o futuro da comunidade. A iniciativa partiu da assistente social Karla Virgínia Cavalcanti Monteiro, que se encantou com o Mudando a História, da Fundação Abrinq, e entrou em contato com a coordenação do projeto, em São Paulo, solicitando uma visita. Em pouco tempo, o programa já estava implantado no vilarejo.

A proposta do Mudando a História é dar aos próprios jovens a oportunidade de atuar como mediadores e multiplicadores de leitura. Funciona mais ou menos assim: meninos e meninas entre 13 e 15 anos são identificados e recrutados nas escolas das cidades atendidas. Devidamente capacitados, eles passam a promover atividades em salas de aula, sempre para crianças menores. Os pequenos escolhem um livro e os jovens lêem para eles. "O adulto serve apenas como apoio, uma referência, sem jamais interferir", explica Maria do Carmo Krehan, coordenadora do projeto.

Implementado em 2001, hoje o Mudando a História está presente em dez localidades, em parceria com organizações sociais de Manaus e da região metropolitana de São Paulo. O projeto conta ainda com quatro instituições parceiras nas cidades de Mogi Mirim e Bauru, a 160 e 345 quilômetros de São Paulo, respectivamente, e em Parati, no litoral do estado do Rio de Janeiro. Somente no ano passado, foram formados 99 multiplicadores e 1 110 mediadores de leitura. Juntos, eles organizaram sessões de mediação para outros 11 mil adolescentes e crianças. Paralelamente a esse trabalho, um programa-piloto em quatro escolas públicas das cidades de São Paulo e Manaus foi desenvolvido com o objetivo de testar a possibilidade de estender o projeto para o sistema público de ensino. A ideia, segundo os coordenadores, é contribuir para formar crianças e adolescentes como leitores, além de desenvolver jovens capazes de realizar intervenções e transformações sociais positivas. No total, 94 alunos das 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental, todos com idade entre 13 e 15 anos, realizaram sessões de leitura para 460 crianças da 1ª série e da Educação Infantil.


Uma pesquisa feita pela Fundação Abrinq em 2007 mostra que os participantes do Mudando a História correspondem às expectativas de seus idealizadores e lêem muito mais que maioria dos jovens brasileiros. De acordo com o estudo, eles leram, apenas entre os meses de janeiro e junho do ano anterior, quase 90 livros em média. E mais: os familiares dos mediadores de leitura capacitados pelo projeto também estão felizes da vida. Aproximadamente 70% deles afirmam que toda a família passou a ler mais; e cerca de 90% disseram que o jovem começou a ler em casa para outras pessoas - geralmente os irmãos mais novos, os primos e os vizinhos. "Todo o processo é conduzido pela garotada, incluindo os cursos de capacitação. O objetivo é desenvolver certas habilidades fundamentais, entre elas a facilidade de comunicação, o trabalho em equipe e a capacidade de enfrentar adversidades ou solucionar problemas", diz a coordenadora Maria do Carmo
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                                                                                          Mariana Sgarioni (novaescola@atleitor.com.br)

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